Marta uma mulher atarefada

Marta uma mulher atarefada

Jesus tinha por costume percorrer as aldeias da Galiléia e da Judéia com os seus discípulos. Nessas viagens, ele se aproximava das pessoas com quem se encontrava e interagia com elas, procurando comunicar-lhes quem era e a sua Missão na terra. Seu desejo era ser recebido por todos com quem se comunicava, convidando-os a ter um relacionamento íntimo com ele. Numa certa viagem, ele entrou em uma aldeia chamada Betânia, distante quase uns “quinze estádios” de Jerusalém ( Jo 11 :18 ), sendo isso, na nossa medida, aproximadamente, uns 2,8 km. Ali, foi hospedado por Marta, uma mulher judia, que morava com seus dois irmãos, Maria e Lázaro (Jo 11:1). Os três se tornaram amigos amados de Jesus (Jo 11:5). Após aquele dia, Marta aprendeu com Jesus a administrar suas prioridades, pois a ocupação frenética e exaustiva a que se submetia afetava seus relacionamentos pessoais.

“E respondendo Jesus, disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada". (Lc 10: 41-42)

I – O que a Bíblia diz sobre Marta

A pouca distância de Jerusalém, do outro lado do Monte das Oliveiras, está Betânia, um pequeno povoado, rodeado de tamareiras. Aliás, seu nome quer dizer isso mesmo: terra das tâmaras. Esta cidade encontrava-se na encosta "L" do monte das Oliveiras, num antigo acesso a Jerusalém, vindo de Jericó e do Jordão (Mc 10:46, 11:1; Lc 19:29). Atualmente, o local é assinalado pela pequena aldeia de el-’Azariyeh (El ‘Eizariya), nome árabe que significa “o Lugar de Lázaro”. Devido à hospitalidade de Marta e seus irmãos, Betânia poderia ser chamada de o lar de Jesus na Judéia, assim como Cafarnaum era seu lar na Galiléia (Mc 2:1).

Aquela mulher hospedou Jesus e seus discípulos em sua casa, quando eles passavam por lá. O grupo vinha de longas viagens, cansado, faminto. Não era qualquer comidinha que satisfaria seu apetite, e isto deixou Marta bastante atarefada, pois era uma mulher muito responsável pela boa ordem e pelo conforto do seu lar. Como boa cozinheira, esmerava-se em preparar pratos variados para receber os convidados e "andava distraída em muitos serviços" (Lc 10:40). Marta e sua irmã, Maria, possuíam temperamentos bem diferentes; enquanto Marta era preocupada com detalhes, Maria era mais despreocupada e desprendida dos afazeres domésticos. Enquanto Marta se agitava, Maria, calmamente, ficava assentada aos pés do Senhor, ouvindo-o (Lc 10:39). Esta maneira de agir de Maria irritou Marta, porque esta percebeu que Jesus observava tudo o que acontecia; então ela o censurou, para que ele mandasse Maria ajudá-la (Lc 10:40).

Jesus não chamou Marta à atenção porque achasse errado que ela se preparasse para receber hóspedes, ou desempenhasse suas tarefas domésticas; ele lhe chamou a atenção para o fato de ela se desgastar tanto em sua ocupação e se exasperar com sua irmã. Marta faria muito melhor em preparar menos coisas e reservar um tempo para estar com ele, pois ele logo iria embora. A intenção do Mestre não era fazer comparações desagradáveis entre as duas, mas conscientizar Marta de que ela não precisava se preocupar tanto, nem ter expectativas exageradas com seu desempenho de hospedeira, para que pudesse aproveitar a chance de fazer o que realmente era necessário: ouvir a sua palavra (Lc 10:41-42). Apesar de estar “distraída”, Marta também amava e ouvia Jesus, tanto que tinha profundidade espiritual suficiente para saber que ele tinha poder para operar milagres e curar enfermos.

O evangelho de João relata que, quando o irmão de Marta e Maria ficou muito doente, ambas enviaram uma mensagem para Jesus, solicitando-lhe que fosse à casa delas, com urgência (Jo 11:3). Ao saber do fato, Jesus disse que aquela doença de seu amigo não seria para a morte, mas, sim, para a glória de Deus. Jesus ficou ainda dois dia onde estava. Lázaro, de fato, morreu. E quando Jesus, finalmente, chegou ao lugar onde seu amigo estaria, já não havia tempo para que ele pudesse ser curado. Quando soube que Jesus estava chegando, Marta foi a primeira a correr ao seu encontro, e a sua maior prova de fé no poder de Jesus está expressa em suas palavras: "Senhor, se estiveras aqui, não teria morrido meu irmão" (Jo 11:20,21). Marta sabia do grande amor de Jesus por Lázaro. Por isso, não questionou a demora dele, mas, por trás das palavras dela, está uma pequena dúvida: “Por que o Senhor não viera a tempo”? Como Marta, nós, às vezes, gostaríamos de perguntar a Deus: “Por que o Senhor não curou?”; “por que o Senhor não deu mais tempo?”; “por que o Senhor deixou essa pessoa tão querida morrer?”.

Como muitos de nós, Marta, apesar das dúvidas e da falta de entendimento, ainda tinha fé. Ela expressou essa fé quando disse isto a Jesus: "sei que, mesmo agora, tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá" (Jo 11:22). Ela acreditava em Jesus e a sua fé era grande, mas, como todo cristão, Marta não chegava aonde deveria. Por querer que a sua fé aumentasse, Jesus levou a conversa com Marta mais adiante: Disse-lhe Jesus: "Teu irmão há de ressurgir". Aqui, ele não estava se referindo àquela ressurreição que ocorrerá por ocasião da sua segunda vinda. Mas Marta pensou que se tratasse da ressurreição do último dia. Ela disse para Jesus: "Eu sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia". Ainda havia algo em que ela não era capaz de acreditar. Marta, como muitos judeus daquela época, cria na ressurreição do último dia. Mas Jesus a surpreendeu com uma declaração chocante: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente" (Jo 11:25-26). Essa declaração implica que a ressurreição não é algo apenas teórico, para daqui a centenas de anos; é centralizada e realizada numa pessoa, Cristo, que, aqui, se declara a própria ressurreição. É por isso que a sua pergunta, de apenas duas palavras, é tão carregada de sentido: "Crês isto?"

Poderíamos supor que ele queria que Marta, além de crer nas promessas de coisas maravilhosas, para dali a séculos, em conceitos, idéias, cresse que, através dele, Deus poderia ressuscitar Lázaro, naquele momento. Essas não são as palavras de um amigo qualquer; são as palavras de Deus. Só ele pode dizer algo assim. Embora Marta tenha afirmado "crer que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo", o que ela falou dá-nos a entender que sua fé se limitava a este ponto: Jesus poderia curar Lázaro, mas não o ressuscitaria naquela hora (Jo 11:22,23,27). Então, ela, secretamente, mandou chamar Maria. Sem explicar o que estava ocorrendo, Maria "levantou-se depressa e foi ter com ele" (Jo 11 :29). Os seus amigos judeus a acompanharam também. Diante de Jesus, ele se prostrou e disse o mesmo que sua irmã havia dito: Senhor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido (Jo 11 :32). Ao ver o choro de Maria e dos demais, Jesus ficou profundamente comovido e angustiado.

A caminho do túmulo de Lázaro, ele irrompeu em lágrimas. Por ser sensível e solidário à angústia e à tristeza humana, Jesus chorou com os que choravam. Os que o observavam se admiraram, dizendo: "Vede quanto o amava" (Jo 11 :36). Jesus solicitou a Marta que o levasse ao sepulcro. Em frente ao túmulo, havia um ambiente de tristeza, desapontamento e angústia (Jo 11 :32,33), mas a presença de Jesus ali é algo perturbador. Naquele lugar, estava presente a própria vida. Neste instante, Jesus pediu que fosse removida a pedra que tampava o sepulcro (Jo 11 .35a). Marta tentou argumentar com Jesus, dizendo-lhe que o corpo de seu irmão já estava em estado de decomposição e, por isso, já cheirava mal. Era como se ela dissesse: “O Senhor chegou tarde, agora nos poupe de tal situação, pois isto nos seria incômodo! Deixe-o lá; agora já não pode fazer nada!” Só que, com Jesus, as argumentações mais racionais são sempre rebatidas pela sua palavra vivificadora. Ele, então, respondeu: "Não te hei dito que se creres verás a glória de Deus"? (Jo 11 :40).

As pessoas devem ter ficado atônitas e curiosas, pois não entendiam o motivo de Jesus estar fazendo tudo aquilo. Elas simplesmente não criam que algo de extraordinário poderia acontecer; não sabiam que estavam diante do Príncipe da Vida, que já havia declarado: "Eu sou a ressurreição e a vida!" (Jo 11:25). Jesus não estava dizendo palavras sem sentido, apenas para impressionar, mas dizia claramente à sua platéia: "Eu sou o Deus de vossos pais, o Deus que vossos pais adoravam na antiguidade está agora entre vós para vos trazer vida, pois eu sou o princípio da própria vida, tudo se iniciou em mim!"

Novamente Jesus fez algo inusitado para o momento: começou a orar. Mas sua oração era diferente. Para Jesus, o céu parecia um lugar muito próximo, pois ele simplesmente conversava com o Pai como se estivessem lado a lado, e de forma rápida e simples; ele sabia que o Pai o ouvia e que ansiava por este momento. Então, aconteceu algo incrível: Jesus se dirigiu ao defunto: "Lázaro, vem para fora" ( Jo 11 :43).

Tudo parou naquele instante, e todos esperavam, apreensivamente, para ver o que aconteceria. Um silêncio total deve ter envolvido o ambiente, enquanto todos olhavam fixamente para a entrada da gruta. Se nada acontecesse, saberiam que estavam na presença de um louco; mas, se Lázaro saísse do sepulcro, entenderiam que estavam na presença de alguém que possuía um poder que jamais tinham visto. O inesperado aconteceu: o irmão de Maria e Marta, morto há quatro dias, saiu vivo do túmulo (Jo 11:44a). Como foi que o morto voltou a viver e andar? Jesus apenas chamou o nome dele, e ele voltou a viver. Essa deve ter sido uma cena marcante; deve ter sido a imagem que todos aqueles presentes jamais esqueceram. Se houvesse canais de televisão, certamente, haveria repórteres falando o resto da semana do grande milagre que houve em Betânia. Essa cena é real porque representa a verdade que esperam todos aqueles que crêem em Jesus: Naquele dia, Marta viu a glória de Deus. Como era de se esperar, muitos dos que viram esses acontecimentos creram em Jesus, naquele dia (Jo 11:45). Encontramos uma nova Marta, no jantar, em Betânia (Jo 12:1-8), que continua servindo, mas, desta vez, sem preocupações exageradas. Maria, por sua vez, se permite expressar a Jesus toda a sua gratidão e o seu amor, derramando um jarro de perfume caríssimo em seus pés e enxugando-os com seus próprios cabelos. Marta contempla a cena satisfeita, e continua demonstrando amor ao Mestre, com seus serviços caseiros. Ela aprendeu a administrar as suas prioridades, respeitar as dos outros e viver em paz: administra seu tempo de forma a poder estar com Jesus e com seus familiares, sem deixar de lado as suas obrigações.

II – Lições da vida de Marta

1. Aprendamos a aliar a contemplação à ação, na prática da hospitalidade.

O desafio para o cristão que luta pela libertação de seus irmãos é o de viver a contemplação na ação. Não adianta só orar para que o Senhor converta as almas perdidas; é preciso recebê-las com hospitalidade, ouvi-las e servir-lhes. Não se trata de orar por um lado e atuar por outro, mas de orar no próprio processo de libertação, de contemplar a Deus ali: nas necessidades das pessoas. A Bíblia nos incentiva a sermos hospitaleiros: "Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos" (Hb 13:2). "Comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade" (Rm 12:13). Marta e Maria são modelos distintos de como devemos nos comportar na hospitalidade. Como é triste visitar uma congregação e não ser bem recepcionado por alguém! Estejamos atentos para aliarmos atenção à ação, na hospitalidade cristã, sem desgastes e agitações.

2. Aprendamos a administrar o nosso tempo, para não ficarmos atarefados demais.

Na maioria das vezes, quando as pessoas ficam muito atarefadas, a primeira coisa de que se esquecem é de ler a palavra de Deus e orar. Não “sobra” tempo; afinal de contas, há muito que fazer. As obrigações domésticas, o atendimento às necessidades familiares, o trabalho secular, o convívio social e até o planejamento das atividades da igreja tomam todo o tempo e não há como encaixar as práticas devocionais no dia-a-dia. Nessa correria, essas pessoas arriscam-se a trabalhar demais, ficam estressadas e chegam ao final do dia sem energia para outra coisa que não seja ficar frente a um televisor ou um computador. Saber administrar o tempo tem muito a ver com o equilíbrio. É muito importante aprender a estabelecer prioridades, e a primeira tem que ser a nossa comunhão com Jesus, pois, sem ele, nada se pode fazer. Ele é quem nos dá a energia e o ânimo para o trabalho.

3. Aprendamos a cultivar a fé para ver a glória de Deus.

A fé é um bem valiosíssimo, que deve ser cultivado, protegido e mantido, cuidado, pois, através da fé, vê-se a maravilhosa manifestação da glória de Deus. Se ela acabar, tudo estará acabado, uma vez que, sem fé, você não é possível crucificar o eu; sem fé, não há como dizer não à carne; sem fé, ninguém consegue obedecer a Deus; sem fé, ninguém consegue contemplar, à distância, o galardão de Deus, ver o invisível, tirar força da fraqueza, passar por escárnios e açoites, olhar firmemente para Jesus; enfim, "sem fé ninguém pode agradar a Deus, porque quem vai a ele precisa crer que ele existe e que recompensa os que procuram conhecê-lo melhor" (Hb 11:6). Sendo assim, cuide bem da sua fé em Deus. Faça-a engordar, faça-a progredir, faça-a constante, saudável, robusta, alimentado-a diariamente com a palavra de Deus, pois "a fé vem pelo ouvir e ouvir da palavra de Deus" (Rm 10:17).

Conclusão

No íntimo de cada ser humano, há uma luta entre Marta e Maria; entre o material e o espiritual, uma vez que a carne e o Espírito estão sempre em conflito. Parece que Marta, a atarefada, sempre quer sobrepor-se, mas, por mais válido que seja um trabalho, a vida cristã autêntica prioriza a comunhão, a devoção, a amizade com Cristo. Às vezes, somos como Marta, tão ansiosos e tão afadigados com o serviço do Senhor que até nos esquecemos de ouvir a sua voz, de o adorar, de desfrutar da sua companhia; sem contar que, algumas vezes, fazemos o trabalho para o Senhor murmurando e reclamando dos demais irmãos e irmãs. Jamais deixemos que o trabalho nos envolva tanto, a ponto de não termos tempo para aprendemos de Cristo.

Escolhamos sempre a melhor parte: estarmos aos pés do Senhor.

Fonte: 
Texto de autoria da Diaconisa Vilma Pimentel de Oliveira, adaptado para ilustrar a série "Homens de Mulheres da Bíblia - O exemplo dado por eles"

Um comentário:

  1. muito bom achei tudo que estava precisando e essa palavra falou fundo ao meu coração obrigado que Deus abençõe vcs fikem na paz

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