Não Desista da Oração!

Por Genilson Soares


E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? (Lc 18:7)

De todos os evangelhos, o de Lucas é o que mais contém ensinos e alusões sobre a oração. Ele mostra Jesus não somente praticando a oração, em momentos cruciais do seu ministério (Lc 3:21, 6:12-13, 9:29, 10:21, 22:32, 39-46, 23:46), mas também ensinando acerca da oração (Lc 11:1-4). Além da parábola do juiz iníquo (Lc 18:1-8), duas outras parábolas sobre oração são encontradas no evangelho de Lucas: a do amigo importuno (Lc 11:5-8) e a do fariseu e o publicano (Lc 18:9-14). Estas parábolas são encontradas apenas em Lucas.

Nesta parábola do juiz iníquo, Jesus conta a história de uma viúva de certa cidade que apela a certo juiz por justiça contra um homem que a prejudicara. O caráter desse juiz era descaradamente impiedoso e insensível, pois nem a Deus temia, nem respeitava homem algum (Lc 18:2b). Se ele conhecia as inspiradas palavras de orientação e de advertência, proferidas por Josafá aos juízes (II Cr 19:6-7), definitivamente, não as observava, nem as praticava (II Cr 19:6-7). Ele também não respeitava os direitos das pessoas mais humildes, visto que agia apenas por interesse próprio, sendo as suas sentenças sempre determinadas pelo tamanho do suborno que as partes interessadas em justiça lhe ofereciam. É a este juiz, em cujo coração não havia o reconhecimento de que há um Juiz de instância superior – “o Deus grande, poderoso e temível, que não faz acepção de pessoas, nem aceita suborno; que faz justiça ao órfão e à viúva” (Dt 10:17b-18a) –, a quem todos os juízes da terra terão de prestar contas, que a viúva, fraca demais para exigir, pobre demais para comprar justiça, se dirige. Ela não possui protetor para pressionar, nem dinheiro para corromper aquele homem perverso e corrupto, mas possui algo muito nobre: um caráter perseverante. Sendo assim, o juiz, por algum tempo, não quis fazer justiça à viúva, mas, depois, acabou ouvindo e atendendo a causa dela, apenas para se ver livre dos seus insistentes e constantes apelos.

Vejamos, agora, o propósito da parábola. Os versículos iniciais do capítulo dezoito estão profundamente relacionados com os versículos finais do capítulo dezessete. Desta forma, não há como entender o propósito da parábola, sem conhecer o conteúdo dos versículos que a precedem (Lc 17:20-37). Vamos, então, de modo breve, analisá-los. Após explicar aos fariseus a natureza espiritual e universal do reinado divino (Lc 17:20-21), Jesus se volta para os doze e passa a ensinar-lhes sobre a sua vinda, que ocorrerá de maneira visível, porém, súbita – enquanto as pessoas desenvolvem atividades cotidianas normalmente. Antes de isso tudo ocorrer, Jesus frisa o que virá sobre ele, na cidade de Jerusalém: perturbadoras angústias e inimagináveis rejeições. A vinda de Jesus seria visível, súbita, mas não seria imediata, como os discípulos imaginavam. Jesus estava ciente de que essa aparente demora poderia produzir desmotivação e esmorecimento em seus discípulos, especialmente quando se deparassem com os escarnecedores questionando abertamente: “Onde está a promessa da sua vinda? Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação” (II Pe 3:4). Eles, de fato, poderiam ser levados a duvidar da palavra e da promessa de Jesus, a respeito do seu retorno glorioso. Por essa razão é que, logo após o ensino sobre a sua vinda, ele lhes conta a parábola do juiz iníquo, com o intuito de lhes ensinar sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer (Lc 18:1).

Antes de falar sobre a perseverança na oração, Jesus tratou de duas questões acerca do reino de Deus. Num primeiro momento, ele tratou da natureza do reino de Deus. Os que seguiam a Jesus o ouviram pregar e ensinar sobre a vinda do reino de Deus, várias vezes. Ao falar sobre o reino de Deus, ele tinha uma idéia muito clara em mente: um reino de natureza espiritual e universal. Os discípulos tinham em mente uma outra idéia de reino: um reino exterior, visível, político, terreno, onde teriam um lugar de honra e poder. A idéia era a de que o Messias derrotaria os inimigos de Israel e estabeleceria seu trono em Jerusalém. Jesus enfatizara que o seu reino não era deste mundo, mas os seus discípulos tiveram dificuldade em entender esse conceito. Num segundo momento, Jesus tratou da realidade do reino de Deus, também incompreendida pelos discípulos. Ele lhes ensinou que esse reino não era somente uma realidade presente, mas, também, uma realidade futura. Afirmou, em primeiro lugar, que, com a sua primeira vinda, teve início “a inauguração do reino de Deus”. Deus estava presente nele, fazendo maravilhas, ensinando realidades espirituais, reconciliando o mundo consigo mesmo. Desse modo, Jesus podia dizer que o reino de Deus estava entre as pessoas. Ele, por outro lado, deixou claro que o seu reino não havia ainda chegado com toda a sua plenitude. O governo de Deus ainda não havia alcançado toda a extensão da terra. Os homens e as mulheres ainda eram rebeldes ao projeto divino.

Ele ensinou, em segundo lugar, que, com a sua segunda vinda, teria início a consumação do reino de Deus. No livro do Apocalipse, que é a revelação de Jesus, a qual Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer (Ap 1:1a), o próprio Jesus, não mais em estado de humilhação, mas em estado de glorificação, revela, em detalhes, o que ocorrerá nessa ocasião. Após o milênio, todos os poderes hostis, tanto os de natureza humana quanto os de natureza maligna, serão, definitivamente, destruídos pelo Senhor. Então, ouvir-se-á a estrondosa e maravilhosa declaração: ... os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará para todo o sempre (Ap 11:15). Jesus, porém, sabia que os tempos que sucederiam a inauguração do reino e precederiam a consumação do reino, seriam tempos marcados por intensa perseguição.

No âmbito judaico, eles sofreriam terríveis pressões das autoridades religiosas ligadas à sinagoga, furiosas por serem incapazes de reconduzi-los aos rígidos padrões das tradições religiosas do judaísmo. Por isso, os discípulos começariam a ser julgados em tribunais, flagelados em sinagogas e denunciados, diante das autoridades civis. Tudo por causa da fé! No âmbito pagão, teriam sorte semelhante: seriam vítimas dos próprios familiares, movidos por um ódio tão incontrolado, a ponto de fazê-los morrer (Mt 10:17, 24:9; Mc 4:17, 13:9; Lc 21:12; Jo 15:20, 16:2). Em meio a toda essa forte pressão e grande aflição, eles clamariam intensamente pela manifestação e pela intervenção da justiça divina contra os inimigos. Sob intensa aflição, orariam: Venha o teu reino! Este clamor angustiante e perturbador, porém, não seria atendido de imediato.

Os injustiçados por causa da palavra de Deus perguntariam, assombrados: “Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?” (Ap 6:10). Diante disso, era grande o risco de muitos da igreja serem consumidos pelo desapontamento e derrotados pelo esmorecimento. Muitos poderiam não somente deixar de clamar a justiça divina, mas, também, deixar de aguardá-la. Por essa razão, Jesus concluiu a parábola enfatizando, claramente, que, no tempo próprio, o Juiz dos juízes também fará justiça aos seus escolhidos, desde que estes não percam a fé (Lc 18:7-8).

Esta é a verdade principal ensinada pela parábola: ainda que a justiça do governo ou do reinado divino demore a se manifestar plenamente, os discípulos de Cristo precisam continuar clamando e esperando por ela, de maneira perseverante e determinada. Jesus garante que, embora pareça para os seus discípulos que Deus demore a fazer valer a sua justiça, ela se estabelecerá plenamente. Cabe aos discípulos de Cristo continuar a esperar. Esperar com fé, para que o Filho do Homem os ache aguardando por ele, quando vier.

Quem aguarda o triunfo final do reino de Deus, deve orar para não cair na tentação da heresia - Jesus ensina que os tempos que antecedem o triunfo final do reino de Deus serão tempos de heresia! Não devemos esperar um tempo universal de pureza doutrinária, antes que venha o fim. Jesus adverte que, nos últimos tempos, surgirão muitos falsos mestres, inspirados por espíritos malignos, ensinando doutrinas extravagantes, com o objetivo de obscurecer a gloriosa doutrina da segunda vinda. Quem aguarda o triunfo final do reino de Deus precisa estar alerta e atento para não estar entre aqueles que se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas (II Tm 4:4). Se este alerta de Jesus não tivesse sido tão negligenciado, a igreja teria tido uma história muito mais feliz.

Oremos perseverantemente: Senhor, não nos deixes cair na tentação da heresia.

Quem aguarda o triunfo final do reino de Deus, deve orar para não cair na tentação da indolência - Jesus ensina que os tempos que antecedem o triunfo final do reino de Deus serão tempos de indolência! As pessoas estarão comendo, bebendo, plantando, casando, construindo, comprando, vendendo (Lc 17:26-30). Alguém pode questionar: o que há de errado em comer, beber, plantar, casar, construir, comprar, vender? Não há nada de errado! Por meio dessas coisas, podemos até glorificar a Deus (I Co 10:31). Se, porém, a nossa alma se tornar tão absorvida e tão dominada por estas atividades, a ponto de nos tornarmos indolentes, insensíveis, descuidados, desleixados, negligentes, indiferentes para com deveres espirituais, elas se tornam uma grande ameaça para quem aguarda o triunfo final do reino de Deus.

Oremos perseverantemente: Senhor, não nos deixes cair na tentação da indolência.

Quem aguarda o triunfo final do reino de Deus, deve orar para não cair na tentação da dúvida - Jesus ensina que os tempos que antecedem o triunfo final do reino de Deus serão tempos de dúvida! Como Jesus termina a aplicação da parábola? Termina com uma pergunta para reflexão: “Quando, porém, vier o Filho do Homem, porventura, achará fé na terra?” (Lc 18:8). Nosso Senhor conhecia bem a incredulidade natural da natureza humana. Jesus sabia que, quando retornasse, a fé seria rara entre os seres humanos. Não é isso que vemos ao nosso redor? Sim, vivemos numa época de muita e grande incredulidade. Assim como poucos creram no relato da primeira vinda do Senhor, poucos crêem no relato da sua segunda vinda (Is 53:1). Acautelemo-nos dessa infecção e creiamos nas predições sobre a vinda do Senhor, para a salvação de nossa alma.

Oremos perseverantemente: Senhor, não nos deixe cair na tentação da dúvida.

CONCLUSÃO:

Não desistamos de suplicar a vinda triunfal do reino de Deus! Não desistamos de aguardar a vinda triunfal do reino de Deus! Os servos e as servas do Senhor podem esperar com paciência a consumação do reino de Deus. Seu Mestre será, um dia, reconhecido como Rei dos reis, por todo mundo. Jamais nos esqueçamos disso. Não importa o que homens e mulheres nos possam fazer no presente, não permanecerá zombaria alguma, nem permanecerá injustiça alguma, sem julgamento e castigo de Jesus, juiz dos vivos e dos mortos. Diante dele, toda boca se calará, todo joelho se dobrará e toda língua confessará que ele é o Senhor, para a glória de Deus Pai. Enfim, todas as nações, povos e tribos se prostrarão diante dele, porque os seus juízos serão manifestos!

Amém!

Que Deus nos abençoe!

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Fonte: Autor Pastor Genilson Soares da SIlva - Divulgado no PC@maral

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