A história da Igreja Cristã a era sombria


A última geração do primeiro século, a que vai do ano 60 ao 100 DC, chamamos de "Era Sombria", em razão de as trevas da perseguição estarem sobre a igreja, e pela falha de muitas informações sobre este período.

Razões das perseguições da Igreja

Ao longo dos primeiros três séculos do cristianismo havia tanto a competição entre as religiões como o espírito de tolerância entre elas. Embora nunca fossem usados recursos de luta armada para se defenderem, os cristãos foi o único elemento social perseguido por um período, extremamente, prolongado.

A falta de participação nas festas e ritos idolatras dos templos pagãos, bem como sua hostilidade a outras religiões, levou o mundo da época a rotular os cristãos de “ateus e inimigos dos deuses”. Os cristãos passaram a se reunir sempre a noite, em segredo e, começaram a criar laços de afeição uns pelos outros. Ao mesmo tempo celebravam a ceia do Senhor (simbolicamente comer da carne e beber do sangue do Senhor Jesus Cristo). A observância dessa ordenança de Cristo deu margem às acusações de antropofagia ou canibalismo. Assim durante décadas, foram-lhes atribuídas as seguintes acusações: ateísmo, licenciosidade e canibalismo.

O cristianismo chocou a sensibilidade dos filósofos e mais educados justamente pelo entusiasmo de seus adeptos. Pior que isso, entrou em conflito com os vendedores de e comerciantes da idolatria. Trazendo, assim, contra eles a má vontade de uma classe poderosa. O paganismo em suas práticas aceitava as novas formas e objetos de adoração que iam surgindo, enquanto o Cristianismo rejeitava qualquer forma ou objeto de adoração.

A adoração aos ídolos estava entrelaçada com todos os aspectos da vida. As imagens eram encontradas em todos os lares, e até em cerimônias cívicas, para serem adoradas. Os cristãos, é claro, não participavam dessas formas de adoração. Por essa razão o povo considera os cristãos como um povo anti-social e ateu, que não tinham deuses. A adoração ao Imperador era considerada como prova de lealdade. Havia estátuas dos imperadores reinantes nos lugares mais visíveis para o povo adorar. Os cristãos recusavam-se a prestar tal adoração.

As reuniões secretas dos cristãos despertaram suspeitas de praticarem atos imorais e criminosos, pois, durante a celebração da Santa Ceia, era vetada a entrada dos estranhos. O Cristianismo considerava todos os homens iguais. Não havia distinção entre seus membros, nem em suas reuniões, por isso foram considerados como "niveladores da sociedade", portanto anarquistas, e perturbadores da ordem social.

Perseguição sob Nero

Nero chegou ao poder em 54, todos os que se opunham à sua vontade, ou morriam ou recebiam ordens de se suicidar. Assim estavam as coisas quando em 64 AD aconteceu o incêndio em Roma. Diz-se que foi Nero, quem ateou fogo à cidade, Contudo essa acusação ainda é discutível. Entretanto a opinião pública responsabilizou Nero por esse crime. A fim de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou os cristãos como culpados do incêndio de Roma, e moveu contra eles tremenda perseguição. O fogo durou seis dias e sete noites e depois voltou a se acender em diversos lugares por mais três dias.

  • Milhares de cristãos foram torturados e mortos.
  • Muitos serviram de iluminação para a cidade, amarrados em postes e ateado fogo.
  • Muito foram vestidos com peles de animais e jogados para os cães.

Nesta época morreram:

  • Pedro - Crucificado em 67
  • Paulo - Decapitado em 68
  • Tiago - Apedrejado depois de ser jogado do alto do templo

Além de matá-los fez servir de diversão para o público.

A Perseguição sob Domiciano

No ano 81 Domiciano sucedeu ao imperador Tito que invadira destruíra Jerusalém no ano 70. Com a destruição de Jerusalém Domiciano ordenou que todos os judeus deviam enviar à Roma as ofertas anuais, que eram enviadas a Jerusalém, estes, por sua vez não obedeceram, o que desencadeou a segunda perseguição, não somente aos judeus mas também aos cristãos. Durante esses dias milhares de cristão foram mortos, especialmente em Roma e em toda a Itália. Nesta época o apóstolo João, que vivia em Éfeso, foi preso e exilado na ilha de Patmos, foi quando recebeu a revelação do Apocalipse.

Domiciano promoveu uma perseguição muito severa em Roma e na Ásia Menor, as duas onde o cristianismo parece ter se expandido mais até então. Esta perseguição parece ter acontecido um pouco antes da sua morte. Envolveu a morte do cônsul Flávio Clemente e sua esposa Flávia Domitila.

Trajano (98-117)

Proibiu as sociedades secretas, inclusive o cristianismo.

As perseguições imperiais

Este período vai da morte do Apóstolo João, ano 100 AD até o Edito de Constantino, ano 313 DC. O fato de maior destaque na História da Igreja neste período foi, sem dúvida, as perseguições realizadas pelos Imperadores Romanos. Estas perseguições duraram até o ano 313 DC, quando Constantino, o primeiro Imperador Romano, "cristão", fez cessar todos os propósitos de destruir a Igreja. A de ressaltar que durante este período houve épocas em que as perseguições foram mais amenas.

No início do segundo século, os cristãos já estavam radicados em quase todas as nações, e alguns crêem que se estendia até a Espanha e Inglaterra. O número de membros da comunidade cristã subia a muitos milhões. A famosa carta de Plínio (Governador da Bitínia - hoje Turquia) ao Imperador Trajano, declara que os templos dos deuses estavam quase abandonados, enquanto os cristãos em toda parte formavam uma multidão, e pertenciam a todas classes , desde a dos nobres, a até a dos escravos.

Os Perseguidores

Imperador Trajano 98 a 117

Estabeleceu a Lei, que sendo cristão acusado de qualquer coisa e não negar fé, será castigado, não tendo acusação está livre. Mandava crucificar e lançar às feras.

Imperador Adriano 117 a 138

Morreu em agonia, gritando, "Quão desgraçado é procurar a morte e não encontrar".

Imperador Marco Aurélio 161 a 180

Mandava decapitar e lançar às feras. Apesar de possuir boas qualidades como homem e governante justo, contudo foi acérrimo perseguidor dos cristãos. Opunha-se, pois, aos cristãos por considerá-los inovadores. Milhares foram decapitados e devorados pelas feras na arena. Os Imperadores acima mencionados, foram considerados como os "bons imperadores", nenhum cristão podia ser preso sem culpa definida e comprovada. Contudo, quando se comprovava acusações e os cristãos se recusavam a retratar-se, os governantes eram obrigados, a por em vigor a lei e ordenar a execução.

Imperador Comodus 180 a 193

Foi o imperador mais favorável aos cristãos que todos os anteriores.

Imperador Severo 193 a 211

Mandava decapitar e lançar às feras. Iniciou uma terrível perseguição que durou até à sua morte em 211. Possuía uma natureza mórbida e melancólica; era muito rigoroso na execução da disciplina. Tão cruel fora o espírito do imperador, que foi considerado por muitos como o anticristo.

Imperador Décio 249 a 251

Décio observava com inveja o poder crescente dos cristãos, e determinou reprimi-lo. Via as igrejas cheias enquanto os templos pagãos desertos. Por conseqüência, mandou que os cristãos tivessem que se apresentar ao Imperador para comunicar e religião. Quem renunciava recebia um certificado, quem não renunciava era considerado criminoso e conduzido à prisão e sujeito as mais horrorosas torturas.

Imperador Galenius 260 a 268
Não houve mais perseguições até o período de Diocleciano

Imperador Diocleciano 305 a 310

A última, a mais sistemática e a mais terrível de todas as perseguições deu-se neste governo. Em uma série de editos determinou-se que: Todos os exemplares da Bíblia fossem queimados. Todos os templos construídos em todo o império durante meio século fossem destruídos. Todos os pertencentes as ordens clericais fossem presos. Ninguém seria solto sem negar o Cristianismo. Pena de morte para quem não adorasse aos deuses.

Prendiam os cristãos dentro dos templos e depois ateavam fogo. Consta que o imperador erigiu um monumento com esta inscrição "Em honra ao extermínio da superstição cristã".

Os principais mártires

Inácio

Provável discípulo de João, bispo em Antioquia, foi condenado no ano 107 por não adorar a outros deuses. Foi morto como mártir, lançado para as feras no anfiteatro romano, no ano 108 ou 110 enquanto o povo festejava. Ele estava disposto a ser martirizado, pois durante a viagem para Roma escreveu cartas às igrejas manifestando o desejo de não perder a honra de morrer por seu Senhor.

Policarpo

Bispo em Esmirna, na Ásia Menor, morreu no ano 155. Ao ser levado perante o governador, e instado para abandonar a fé e negar o nome de Jesus, assim respondeu: "oitenta e seis anos o servi, e somente bens recebi durante todo o tempo, Como poderia eu agora negar ao meu Salvador?” Policarpo foi queimado vivo.

Justino Mártir

Era um dos homens mais competentes de seu tempo, e um dos principais defensores da fé. Seus livros, que ainda existem, oferecem valiosas informações acerca da vida da igreja nos meados do segundo século. Seu martírio deu-se em Roma, no ano 166.

Os efeitos produzidos pelas perseguições

As perseguições produziram uma igreja pura, pois conservava afastados todos aqueles que não eram sinceros em sua confissão de fé. Ninguém se unia à igreja para obter lucros ou popularidade. Somente aqueles que estavam dispostos a ser fiéis até a morte, se tornavam publicamente seguidores de Cristo. A Igreja multiplicava-se. Apesar das perseguições ou talvez por causa delas, a igreja crescia com rapidez assombrosa. Ao findar-se o período de perseguição, a igreja era suficientemente numerosa para constituir a instituição mais poderosa do império.

As perseguições locais por serem limitadas no tempo e no espaço não trouxeram grande número de mártires. O número de cristãos que negaram sua fé também não foi grande. Não entanto era suficiente para criar o problema dos lapsos (aqueles que caíram). Por outro lado, o fato de serem de curta duração criou as condições pelas quais "o sangue dos mártires foi a semente da Igreja". As perseguições universais mostraram que a igreja estava "gorda" nestes séculos, a perseguição intensa, universal e demorada arrasou a Igreja. Muitos negaram a fé, outros tantos forma exilados do império. Mesmo assim a lista daqueles que deram sua vida pela fé nas perseguições de Décio a Dioclesiano foi muito grande. A Igreja conseguiu sobreviver e crescer ainda mais devido à relativa paz de 40 anos entre as duas perseguições e o Edito de Milão. O problema dos "lapsos" (caídos) foi muito agudo nos séculos II e III. Hermas (O Pastor) e Cipriano (De Lapsis) escreveram tratados sobre a questão. O que se deve fazer com os que negaram a fé e queimaram incenso a efígie de César?

A Igreja elaborou algumas respostas. A igreja de Roma em geral foi indulgente com os lapsos, recebendo-os de volta com a simples confissão de seu pecado. Existia um rigor contra os lapsos, eles não teriam mais direito de fazer parte da Igreja. Hermas (que escreveu o livro O Pastor) representa uma posição mediadora que aceita uma única queda. Os lapsos seriam aceitos de volta, mas não mais para o lugar de líderes. Os lapsos seriam membros de "segunda classe" na Igreja. Embora Cipriano seja muito duro com os lapsos, ele os chama a um abundante arrependimento para demonstrar sua tristeza e aflição, sem desesperar da misericórdia de Deus. Apenas estes seriam recebidos de novo na Igreja.

Apesar de considerarmos as perseguições o fato mais importante da História da Igreja, no segundo e terceiro séculos, outros fatos interessantes aconteceram neste período que devem ser observados.

O Cânon Bíblico

Os escritos do Novo Testamento foram terminados, entretanto a formação do Novo Testamento com os livros que o compõem, como cânon, não foi imediata. Algumas Igrejas aceitavam somente alguns livros como inspirados e outra igrejas livros diferentes. Gradualmente os livros do Novo Testamento, tal como usamos hoje, conquistaram a proeminência de escritura inspirada.


O Crescimento e a Expansão da Igreja

O crescimento e a expansão da Igreja foram a causa da organização e da disciplina. A perseguição aproximou as Igrejas e exerceu influência para que elas se unissem e se organizassem. O aparecimento das heresias impôs, também, a necessidade de se estabelecerem alguns artigos de fé, e, com eles, algumas autoridades para executá-las.

Outra característica que distingue esse período é sem dúvida, o desenvolvimento da doutrina. Na era apostólica a fé era do coração, uma entrega pessoal a vontade de Cristo. Entretanto no período, que agora focalizamos, a fé gradativamente passara a ser mental, era uma fé do intelecto, fé que acreditava em um sistema rigoroso e inflexível de doutrinas. O credo Apostólico, a mais antiga e mais simples declaração da crença cristã, foi escrito durante esse período.

Nesta época surgiram três escolas teológicas. Uma em Alexandria, outra na Ásia Menor e outra na África. Os maiores vultos da historia do Cristianismo passaram por essas escolas: Orígenes, Tertuliano e Cipriano.


Fonte:
Paulo Cesar Amaral


3 comentários:

  1. EU LI COM MUITA ATENÇÃO POIS PARA MIM É MUITO IMPORTANTE SOU CRISTÃO É ALUNA do CURSO DE TEOLOGIA FOI O TEMA NA AULA.

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  2. Parabéns, sensacional muito bem produzido, li e parece que estava vendo todo o sofrimento dos nossos irmãos, se hoje temos a liberdade religiosa e direito a expressão agradeçoa eles que com vidas nos deram esta liberdade.

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    1. Amém!
      É verdade. E hoje em dia, principalmente aqui no Brasil podemos declarar nossa fé sem medo.
      É muito bom saber que o texto levou edificação ao seu coração.
      Que Deus te abençoe grandemente!

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