"O IPTU mais caro do Brasil! É isso que eu ganho"

Medo continua em bairro da Zona Sul do Rio após dia de terror - Imagens mostram como foi tiroteio que assustou moradores da Zona Sul do Rio
Depois de trocar tiros com a políca e invadir um hotel de luxo, nove presos foram transferidos para o Conjunto Penitenciário de Bangu.


Nove bandidos presos neste sábado, depois de invadir um hotel de luxo, no Rio de Janeiro, foram transferidos neste domingo (22) para o Conjunto Penitenciário de Bangu. A violência que explodiu num dos bairros nobres da Zona Sul da cidade foi registrada em vídeo pelos moradores da região. Veja na reportagem de Tatiana Nascimento como foi a Batalha de São Conrado.

No bairro de São Conrado, na Zona Sul do Rio, convivem moradores de uma das maiores favela do Brasil, a Rocinha, e donos de apartamentos luxuosos. Alguns tiveram coragem para registrar o tiroteio entre traficantes e policiais militares que acordou a vizinhança.
“O IPTU mais caro do Brasil. E é isso que eu ganho”, diz um dos moradores ao filmar os tiros do seu apartamento.
Dos andares mais baixos, a movimentação dos bandidos era ainda mais clara. Eram quase 60, nas estimativas da polícia. Um motorista de caminhão de lixo foi parado no fogo cruzado. A moto usada pelos traficantes para de funcionar. Do lado oposto da rua, outro morador grava o momento em que os bandidos sobem na caçamba do caminhão, mas decidem fugir a pé. Um grupo de moradores corre para se abrigar na portaria de um dos condomínios. Depois de um minuto, entre tiros e explosões, o porteiro libera a entrada deles.

Perto dalí, na estrada que liga a Zona Sul com a Zona Oeste do Rio, motoristas tentam fugir de balas perdidas. Carros da polícia ficam parados. PMs parecem estar atentos à ação dos bandidos. Tentam se aproximar de um carro vermelho. Pai, mãe e filho abandonam o carro, se arriscam para tentar escapar. As imagens do tiroteio foram feitas por moradores dos prédios da Avenida Aquarela do Brasil, um caminho entre a Praia de São Conrado e a Favela da Rocinha. Bem no começo da avenida, fica a entrada do Hotel Intercontinental.

Enquanto uma parte dos policiais enfrentava os bandidos, outra cercava o prédio. Sem se dar conta do risco de balas perdidas, alguns hóspedes correram até a janela, para tentar entender o que acontecia. No desespero, um dos hóspedes chegou a fazer uma corda com lençóis para tentar fugir do apartamento, mas foi convencido pelo gerente a mudar de idéia. No momento da invasão dos traficantes, havia 1,5 mil pessoas dentro do hotel. Hóspedes, funcionários e participantes de um congresso: gente que vivenciou momentos de incerteza e muito medo.

De um carro que estaciona na entrada principal saem cinco bandidos, alguns carregando fuzis. Pelo menos outros cinco também participaram da invasão do hotel. A quadrilha seguiu pelo lobby e chegou à cozinha. Era hora do café-da-manhã. 30 funcionários e cinco hóspedes foram feitos reféns. As negociações foram comandadas pelo BOPE, o Batalhão de Operações Especiais, e duraram cerca de duas horas. Imagens feitas pela Polícia Militar mostram a rendição do bando. Um a um, eles deixam o hotel sob a escolta dos policiais.

Neste domingo (22), a rotina em São Conrado voltou ao normal. Mas o Hotel Intercontinental , que estava lotado, amanheceu com menos hóspedes. Alguns foram embora ontem mesmo. Outros nem vieram: cancelaram as reservas. Um casal que veio do Recife para correr a Meia Maratona acordou com o barulho dos tiros, um bem perto: “Nós pulamos da cama, e quando levantamos, percebemos que um barulho mais forte, um tiro, tinha atingido a janela do nosso quarto”, diz Tássio Ulisses, um dos hóspedes.

Os dez bandidos que invadiram o hotel foram transferidos da delegacia na Gávea. Um deles era menor de idade: completou 16 anos neste domingo, e foi encaminhado ainda de madrugada para uma delegacia especializada. Os outros nove foram levados no fim da manhã numa van escoltada pela Polícia Civil. Os traficantes passaram por exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal e depois foram encaminhados para o conjunto de presídios de Bangu. Eles vão responder por associação para o tráfico, porte ilegal de armas e sequestro. Moradores de São Conrado, que presenciaram as cenas de violência na manhã de sábado ainda querem explicações sobre como começou o confronto entre os bandidos e os PMs?
“Você sabe exatamente como a coisa aconteceu. A polícia fez o que tinha que fazer, mas será que fez da forma adequada? Acho que existe uma série de coisas ainda não esclarecidas...”, diz um morador.
O jornal O Globo publicou neste domingo uma reportagem com informações de que a polícia não teria encontrado os bandidos por acaso, mas estaria de tocaia a espera deles. Ontem o secretario de Segurança Pública negou que a operação tivesse sido planejada.
“A polícia ainda não tinha informação. Essas pessoas, com esse espírito, encontram a polícia, e essas ações infelizmente acontecem”.
A polícia ainda investiga a informação de que o traficante Francisco Bonfim Lopes, o Nem, que controla a venda de drogas na rocinha estaria na festa no Vidigal e teria trocado tiros com os policiais. As imagens do circuito de segurança do hotel e dos condomínios da área onde houve os tiroteios já foram solicitadas. Os investigadores querem ver se reconhecem o traficante nelas.

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Fonte: Fantástico Globo.com Reportagem apresentada no Fantástico deste domingo (22) divulgada aqui também no PC@maral

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