O Orgulho


A palavra orgulho tem duas conotações: uma positiva e outra negativa. Quando as pessoas têm um devido senso de dignidade e valor, um auto-respeito honroso, e, por razões justas, exultam de alegria, o orgulho é bom; quando, porém, elas têm um senso de superioridade, de auto-estima exaltada, de ostentação, de arrogância, de altivez, de presunção, de vaidade, de ufania, de soberba, então o orgulho é negativo. É sobre esta parte destrutiva do orgulho que a Bíblia Sagrada, em especial, o livro de Provérbios, declara guerra. Na lista dos sete pecados que Deus aborrece, por exemplo, o orgulho aparece em primeiro lugar – olhos altivos (Pv 6:17).

Como vivemos em uma época em que o individualismo tem sido a marca de nossa sociedade, um tempo em que a chamada “privatização das atitudes” tem feito com que muitas pessoas se distanciem, cada vez mais, do seu próximo e tenham uma imagem sobre si além do que convém (Rm 12:3), cabe refletir sobre o orgulho e a rever nossas atitudes, à luz das Escrituras Sagradas, para que, como servo de Cristo, evitemos esse terrível pecado.

A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda. (Pv 16:18)

O texto bíblico, diz que a soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda (Pv 16:18). O sábio avisa que a soberba é a porta que leva ao precipício, e o orgulho é o passo definitivo para o abismo. Na Bíblia Viva, o texto está assim: A desgraça está a um passo depois do orgulho; logo depois da vaidade vem a queda. O Salmo 101:5 também avisa: O que tem olhar altivo e coração soberbo, não o suportarei. Precisamos compreender que Deus não suporta, e não admite o orgulho.

Champlin [Champlin, Russel Norman. O Velho Testamento Interpretado Versículo por Versículo, vol 4, p. 2220] assegura que as palavras hebraicas para orgulho são: Zadom, que significa, literalmente, “ferver”, e Zid, que é “cozinhar”. Isso significa que os arrogantes fervem em sua auto-importância e gostam de perseguir homens menores. Mas, quando isso acontece, Deus age: o rei Nabucodonosor teve o reino tirado de suas mãos e foi para o campo comer grama, por ser orgulhoso (Dn 4:30,31).

Kidner [KIDNER, Derek. Provérbios – Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1986, p.116] avalia que o orgulhoso é uma pessoa que não consegue relacionar-se bem consigo mesmo, com seu próximo e com Deus. Concordo com essa posição, porque o livro de Provérbios ensina que o orgulho é um pecado contra Deus, uma violência contra o próprio orgulhoso, que, sendo pobre de espírito, tem sua alma invadida por desejos de morte: Mas o que peca contra mim violenta a própria alma. Todos os que me aborrecem amam a morte. (Pv 8:36). Isso prova que o orgulhoso vive em crise consigo mesmo. Já a crise com o próximo se dá em decorrência de o orgulhoso ser uma pessoa soberba, insuportável, auto-suficiente, de forma que sua presença, sua fala, suas opiniões são emitidas como sendo as melhores; essa postura, diz a Palavra, só resulta em contenda, porque o orgulhoso não deseja compreender que com os que se aconselham se acha a sabedoria (Pv13:10). A negação dessa verdade prova que o orgulhoso vive em crise com seu próximo.

Nessa situação, a crise com Deus é inevitável porque Abominável é ao SENHOR todo arrogante de coração. Por essa razão, diz o Senhor: ... é evidente que não ficará impune (Pv 16:5). Prestemos atenção ao que o sábio está ensinando: ele diz que o orgulhoso será punido! O orgulhoso receberá o justo castigo por não amar a Deus, ao próximo e a si mesmo, ou seja, por não obedecer aos dois maiores mandamentos da Lei: “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças”. E o segundo mais importante é este: “Ame os outros como você ama a você mesmo”. Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois. (Mc 12:30-31 – NTLH) Por isso, a Escritura Sagrada adverte: Se alguém diz: “Eu amo a Deus”, mas odeia o seu irmão, é mentiroso. Pois ninguém pode amar a Deus, a quem não vê, se não amar o seu irmão, a quem vê (I Jo 4:20). O orgulho breca o amor e afunda o orgulhoso no abismo mortal.

Podemos dizer que o orgulho abrange os quatro aspectos da vida do ser humano: o intelectual, o material, o social e o espiritual. Algumas pessoas denunciam seu orgulho pelo seu jeito de olhar, de se vestir; orgulham-se da vida social que levam, dos bens materiais que possuem, do conhecimento que adquiriram, dos amigos que granjearam. Em geral, esse tipo de gente esquece que a Bíblia ensina que tudo o que temos e o que somos é resultado da infinita graça de Deus. Isso quer dizer que, por nós mesmos, não temos nada nesta vida; tudo pertence ao Criador; somos tão somente administradores daquilo que o Senhor nos permite administrar.

Como cristãos, precisamos saber identificar se nossas atitudes não estão pendendo para o lado da vaidade pessoal, para o pecado do orgulho. Há muito cristão orgulhoso que não se apercebe disso; age de maneira errada com tanta naturalidade que o orgulho pessoal passa a fazer parte de sua vida. O orgulho leva esse tipo de gente a pensar que é a pessoa mais sábia, que é auto-suficiente e que, por isso, não precisa da ajuda de outros. No livro de Provérbios, porém, encontramos diversos textos que mostram o quanto o orgulho é prejudicial a nossa vida (Pv 16:19, 21:4,24). Assim como os demais pecados, o orgulho deixará o orgulhoso sem honra: Em vindo a soberba, sobrevém a desonra (Pv 11:2). Muitas pessoas orgulhosas acham que nunca irão fracassar ou que sempre terão sucesso na vida. Estão profundamente enganadas, pois A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra (29:23). Não bastasse isso, a casa do soberbo também cairá por terra (Pv 15:25).

Ao longo da nossa jornada como servos de Deus, temos encontrado pessoas que demonstram não terem deixado completamente o pecado do orgulho; as tais ainda não compreenderam que o orgulho faz parte do velho homem, da velha vida sem Cristo. Em razão disso, o diabo tem usado esse pecado para causar contendas no meio do povo de Deus. Às vezes, esse problema é muito forte entre as lideranças cristãs; são pessoas desejosas de posições a qualquer custo, pois querem promoção pessoal perante os servos de Deus. O orgulho tem feito com que os homens entrem em conflito uns com os outros, que famílias se desintegrem, que a paz desapareça, pois dele provém a vaidade e a ganância. Enquanto os homens não admitirem que o orgulho é algo prejudicial não apenas a si próprios, mas aos outros, continuarão caminhando para a ruína.

Nunca é demais lembrar que o orgulho de Lúcifer o levou à queda, à desgraça, à ruína. O profeta Isaías, ao se referir à queda de Babilônia, usou esse fato como ilustração do declínio fatal de Satanás: Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo. (14:12-15)

Para o orgulhoso e prepotente povo de Edom, Deus disse: Ainda que você voe tão alto como a águia e faça o seu ninho entre as estrelas, eu o derrubarei dali (Ob 4 - NTLH). Quando nós começamos a nos sentir auto-suficientes, mais importantes que os outros, imprescindíveis, é porque o orgulho já nos dominou, e nossa ruína será mera questão de tempo.

O apóstolo Paulo, advertindo aos cristãos de Corinto, disse-lhes: Aquele, pois, que pensa estar em pé veja para que não caia (I Co 10:12). A pessoa que, cheia de orgulho, começa a confiar em suas virtudes próprias, deixando de lado a mão poderosa de Deus, está destinada, não à misericórdia divina, mas ao juízo divino. O apóstolo Tiago, discorrendo sobre o orgulho, expressou-se assim: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes (Tg 4:6). O orgulhoso não é visto com bons olhos pelo Senhor, que requer humildade de seus adoradores. A pessoa que insistir em ser independente de Deus não vai muito longe em sua jornada.

Conta-se que certo homem, que se dizia cristão foi passar uns tempos fora de sua cidade, para visitar os familiares. E quando voltou, encontrou um tal João na rodoviária, e perguntou:

- Oh! João! Houve alguma novidade por aqui na minha ausência?

- O senhor nem imagina – disse o João –; deu uma ventania tão forte que derrubou minha casa.

- Isso não me espanta nem um pouco – disse o homem, e continuou: - Eu bem que avisei, João: seus pecados iam ser castigados.

Ao que João respondeu:

- Hummm... o vento derrubou a casa do senhor, também!

- Não me diga! – o homem exclamou horrorizado e comentou: Como são os mistérios de Deus, hem?

Infelizmente, é comum encontrarmos esse tipo de cristão por aí. Gente que se vê como inatingível, ao mesmo tempo em que enxerga a fraqueza dos outros. Em muitas igrejas, há cristãos com postura de rei: são soberbos, prepotentes, arrogantes e orgulhosos. Acha-se o mais crente, o mais espiritual, o melhor em tudo. Para esses, Jesus manda o seguinte recado: Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu. Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. (Ap 3:17,18)


Pondo em prática a Palavra de Deus

O orgulho pode ser vencido com a prática da humildade

O apóstolo Tiago diz que Deus dá graça aos humildes (4:6). A humildade é o contrário do orgulho. Para alcançarmos as bênçãos do nosso Deus precisamos praticar a humildade, pois o Senhor concede favor aos que assim procedem. Sem a humildade, continuaremos achando que somos auto-suficientes, que não precisamos de ninguém, que poderemos vencer sozinhos, através de nossas próprias virtudes. O apóstolo Pedro nos ajuda a vencer o orgulho com o exercício da humildade: Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte (I Pe 5:6). Quando nos humilhamos diante de Deus, provamos que reconhecemos nossa fragilidade ao mesmo tempo em que lhe atribuímos toda grandeza.

Podemos vencer o terrível pecado do orgulho, se tão somente reconhecermos, com atitudes, que a nossa vida já não é mais direcionada por nós mesmo, mas pelo Senhor. O apóstolo Paulo, depois que passou pelo processo da transformação espiritual, disse: Já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim (Gl 2:20). Esse deve ser o nosso proceder, esvaziando-se de nós mesmo e permitindo que Jesus Cristo dirija a nossa vida. Assim, alcançaremos a graça de Deus.


O orgulho pode ser vencido com a prática da oração

O orgulho também pode ser vencido através da oração. Jesus disse aos seus discípulos: Por isso vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco (Mc 11:24). Jesus deixou claro que, quando oramos com fé, alcançamos vitórias. Portanto, devemos pedir ao Senhor que nos livre desse pecado terrível, a fim de vivermos em plena comunhão com ele e com nossos semelhantes. Através da oração, todas as ações do maligno são desfeitas pelo poder de Deus. Na Bíblia, temos vários exemplos de pessoas que oraram e foram libertas do poder do mal (Êx 18:10; Sl 107:2,14; Gl 5:1; Cl 1:13).

Precisamos orar ao Senhor pedindo forças para vencermos esse pecado, ainda que ele pareça tão insignificante aos nossos olhos. Jesus morreu para nos purificar de todo o mal, e ele quer arrancar de nossa alma o orgulho que está alojado nela. Em oração, clamemos: Ó Senhor, Deus da minha salvação, dia e noite clamo diante de ti. Chegue à tua presença a minha oração, inclina os teus ouvidos ao meu clamor. Pois a minha alma está farta de males e a minha vida já se abeira da morte. (Sl 88:1-3)

Para longe de nós esse mal que tenta roubar a nossa comunhão com o Senhor. Insista na oração, como Davi: Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho certo (Sl 139:23,24). Certamente, Deus ouvirá a nossa oração.


O orgulho pode ser vencido com a prática do amor

Lemos, em I Coríntios 13:4, que o amor é paciente, é benigno, o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece. Eis a outra maneira capaz de nos fazer vencer o orgulho: amar em primeiro lugar ao nosso Deus e, depois, às pessoas que estão ao nosso redor, sejam da igreja ou não. O apóstolo Paulo disse aos romanos que o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado (Rm 5:5). Se o amor de Deus está em nossos corações, precisamos amar os irmãos da igreja, os amigos do trabalho, da escola, os pais, os irmãos de sangue, pois quem tem o amor de Deus, vive amando.

Quando amamos de verdade, conseguimos enxergar os outros como superiores a nós mesmos, certos de que é Deus quem nos exalta no tempo dele e à maneira dele. Jesus nos ensinou que devemos amar uns outros independentemente de posição social, cor, nível cultural ou qualquer outro fator. Se quisermos ter uma vida de plena comunhão com Deus, é imprescindível que aprendamos a expressar amor para com o próximo. Desta forma, venceremos o orgulho, porque, quando amamos ao outro, esvaziamo-nos em favor do próximo (Fp 2:6,7), cumprindo a Palavra que diz: ... aquele que ama a seu irmão permanece na luz e nele não há nenhum tropeço (I Jo 2:10).


Concluindo

Amados irmãos, o orgulho não nos leva a sermos mais importantes ou mais reconhecidos no reino de Deus; pelo contrário, quando somos orgulhosos, cada vez mais somos menos importantes aos olhos dos homens e de Deus, até o ponto de sermos totalmente desqualificados nesta vida e na vida futura. Precisamos ter muito cuidado para não cairmos na tentação do terrível e mortal pecado do orgulho.

Assim, busquemos cada vez mais a graça de Deus, para que vivamos no presente século, sensata, justa e piedosamente, aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus. (Tt 2.12,13).


Fonte:
Texto autoria Pr. Natanael Guimarães

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