Roubará o homem a Deus?

Roubará o homem a Deus?

Um dos roubos mais famosos da história aconteceu no dia 8 de agosto de 1963, e envolveu 16 pessoas de um condado da Inglaterra. Dentre essas pessoas, estava o britânico Ronald Biggs, que se tornou mundialmente famoso por ter se refugiado no Brasil, por mais de 35 anos. Na ação, o bando levou de um trem postal a incrível quantia de 2.631.784 de libras esterlinas em notas miúdas - hoje em dia, o equivalente a cerca de 92 milhões de reais!

Roubo é o assunto deste artigo. Mas não se trata de um roubo qualquer. É mais grave do que o feito contra o trem pagador. Vejamos que roubo é esse.

Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. (Ml 3:8)

O livro de Malaquias é o livro das perguntas. Nele, existem vinte e seis perguntas (Ml 1:2,6-10,13, 2:10,14-15,17, 3:2,7-8,13-14). Só não estão presentes no capítulo quatro. Das vinte e seis, onze foram feitas por Deus, nove pelo povo e seis pelo profeta. As perguntas de Deus são sempre incisivas, honestas e profundas. As do profeta seguem nesta direção. Já as do povo, são absurdamente cínicas e irônicas. Mas vamos, agora, voltar nossa atenção para uma das perguntas divinas.

Roubará o homem a Deus?

Se esta não fosse uma pergunta divina, diríamos, sem titubear, que é uma pergunta sem sentido. Parece-nos impossível a criatura poder roubar o Criador. Mas ela não só pode roubá-lo, como rouba. Deus não acusa, mas afirma, sem rodeio algum, que o seu próprio povo o rouba: Vós me roubais (Ml 3:8b). Ele o rouba nos dízimos e nas ofertas (Ml 3:8c). O termo hebraico para “roubais” (qaba ̀) tem a ideia de “tomar à força”. Ele é usado de novo apenas em Pv 22:23, no contexto de uma agressão ao pobre. Isso nos mostra que se trata de um ato violento. Mas isso não é tudo.

Alguns eruditos modernos pensam em mudar (e alguns mudam) as consoantes do verbo qaba` (roubar) de lugar para obterem o verbo `aqab (suplantar), de cuja raiz é formado o nome “Jacó” (Ya ̀aqob), que significa “suplantador” (Ml 1:2, 2:2, 3:6). A Bíblia de Jerusalém concorda [Ver nota de rodapé desse texto na Bíblia de Jerusalém], com essa alteração, mas não adota no lugar do verbo “roubar” o verbo “suplantar”. Ela optou por um verbo sinônimo: “enganar”. É bem atraente, “o jogo de palavras como nome Jacó, mas o texto hebraico tem como vantagem uma franqueza que soa real, e deve ser conservado” [BALDWIN, J. G. Ageu, Zacarias e Malaquias: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1982 pág. 206].

Com maldição sois amaldiçoados

Em Ml 1:14, Deus amaldiçoa o enganador, que lhe prometeu um animal perfeito do seu rebanho, mas lhe ofereceu um animal defeituoso. Em Ml 2:2, Deus garante que amaldiçoará terrivelmente os sacerdotes que não obedecerem aos seus mandamentos e não honrarem o seu nome. Agora, em Ml 3:9, Deus declara que amaldiçoou a nação toda por causa do roubo dos dízimos e das ofertas. “Insurgir-se contra Deus e violar as suas leis trazem maldição inevitável. Deus é santo e não premia a infidelidade” [LOPES, H. D. Malaquias: a igreja no tribunal de Deus. São Paulo: Hagnos, 2006 pág. 103], nem ignora a desobediência. Isso é assim desde o princípio (Gn 3:14-19).

Quando houve aquele terrível terremoto no Haiti, houve quem dissesse que o desastre que matou milhares de pessoas era resultado de uma maldição divina, uma vez que os haitianos são praticantes de religiões africanas. Um bispo do país, então, se manifestou dizendo: “Nossa desolação não é uma maldição divina” [http://www.zenit.org/article-23976?|= portuguese]. Destacou que o desastre foi provocado por um fenômeno natural. Mas o mesmo não se pode dizer sobre o que ocorre com a nação de Israel. A tragédia que se abateu sobre os filhos de Israel do tempo de Malaquias não foi um fenômeno natural, foi uma maldição divina. O próprio Deus deixou isso muito claro. A causa da maldição? Desobediência!

Trazei todos os dízimos

Aqui, há uma ordem clara da parte Deus para todo o povo: Trazei todos os dízimos. O que essa expressão sugere? Sugere que algumas pessoas haviam deixado de trazer os dízimos. Mas não apenas isso. O “hebraico também pode ser traduzido como o ‘dízimo inteiro’, o que significa que o povo estava retendo uma parte do que deveria ser trazido” [DAVIDSON, F. O Novo Comentário da Bíblia. 3 ed. São Paulo: Vida Nova, 1997 pág. 937]. O povo, na verdade, fingia conformar-se a lei oferecendo alguns dízimos à casa do Tesouro, mas não todos os exigidos pela lei (Lv 27:30).

Deus diz que os dízimos devem ser trazidos à casa do Tesouro para que haja mantimento na sua casa. Os dízimos forneciam o sustento daqueles que trabalham no templo. Quando não eram trazidos, eles não tinham outra opção senão desistir do seu ministério e ganhar o seu sustento na agricultura. E os diversos deveres que eram de responsabilidade deles deixavam de ser executados. Isso já havia ocorrido num passado recente. Na época de Neemias, os levitas e os cantores, que faziam o serviço, tinham fugido cada um para o seu campo (Ne 13:10b) porque os dízimos não estavam sendo entregues como deveriam.

E provai-me nisto

Deus afirma que, se o povo parasse de roubá-lo, tudo mudaria. Ele chega a chamar o seu povo a fazer um teste dele! O que mudaria, se o povo mudasse? Se o povo parasse de roubá-lo, a seca acabaria. Ele abriria as janelas do céu, não para julgar e destruir (Gn 7:11; Is 24:18), mas para abençoar sem medida, isto é, até não haver mais qualquer necessidade. Essa é, literalmente, uma promessa de chuva. Se o povo parasse de roubá-lo, os campos voltariam a produzir. Ele repreenderia o devorador, o inimigo da colheita, provavelmente um tipo de gafanhoto (Jl 1:4). Mas ainda tem mais.

Se o povo parasse de roubá-lo, a vide, a mais importante das árvores frutíferas, voltaria a produzir sem falhar. O retorno dos filhos de Israel do cativeiro produziu um grande impacto sobre as nações gentias. Entre as nações se dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito por eles (Sl 126:2). Isso poderia acontecer novamente. Quando as nações circunvizinhas vissem a prosperidade que viria depois da liberalidade do povo para com Deus, elas concluirão, acertadamente, que foi a mão do Senhor que abençoou o povo. É por isso que Deus diz: todas as nações vos chamarão felizes, porque vós sereis uma terra deleitosa (Ml 3:12). O que todas essas ações de Deus mostram?

Seu senhorio na natureza. A Bíblia faz questão de frisar que Deus é Senhor da criação, do tempo e do clima (I Sm 12:18; Jó 37:10; Dt 11:17; Is 5:6; Jr 10:13). Por ser ele grande em força e forte em poder (Is 40:26b), pode se utilizar do clima, na hora que quiser e do modo que quiser, para mostrar a todas as nações da terra tanto o seu favor (Dt 11:14; Jl 2:23; At 14:17) quanto o seu juízo (Êx 9:23; Js 10:11; I Sm 7:10). Sem dúvida, “todos os poderes da natureza testemunham a existência de um poder soberano no Deus da natureza, de quem se originam e de quem dependem” [HENRY, M. Comentário bíblico Matthew Henry: Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2008 pág.158].

PRATICANDO A PALAVRA DE DEUS

Jamais retenha o dízimo!

Vamos voltar à ordem de Deus: Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro. Atente apenas para o verbo “trazei”. Ele está no plural: “trazei vós”. Isto quer dizer que a ordem é para todos que fazem parte do povo de Deus. Você faz parte do povo de Deus? Então, essa ordem é para você. Essa é uma ordem contra a retenção, porque “trazei” é o mesmo que “transportai para cá” ou “encaminhai para cá”. “Reter” é prender, é guardar, é manter firmemente em seu próprio poder o que não lhe pertence. O dízimo não é seu: é do seu Senhor (Lv 27:30). Não é certo ficar com o que é dos outros. Você sabe disso. Então, vamos, faça logo o que Deus manda fazer: leve-o, ainda hoje, para ele!

Jamais subtraia o dízimo!

A ordem de Deus é para trazer não alguns, mas todos os dízimos. Talvez você já saiba disso, mas sempre vale a pena lembrar: a palavra dízimo significa dez por cento de alguma coisa ou de algum valor. Foi o próprio Deus quem determinou este percentual. Deus não está aberto para negociar este percentual. Ele exige que seja entregue em sua totalidade, não uma parte dele, e de uma só vez, não em várias vezes. Desta forma, você não pode e não deve usar alguma parte desse percentual em benefício próprio ou em benefício de outrem. “A subtração do dízimo é vista como uma violência contra Deus” [COELHO FILHO, I. G. Malaquias: nosso contemporâneo: um estudo contextualizado do livro de Malaquias. 2 ed. Rio de Janeiro: Juerp, 1994 pág. 67]. Que o seu dízimo seja sempre inteiro e que seja sempre de tudo o que você ganha!

Jamais administre o dízimo!

Deus não institui apenas o dever e o valor da entrega dos dízimos. Ele também institui o local da entrega: a casa do Tesouro. Esta expressão designava os celeiros ou armazéns onde os dízimos eram guardados. O que isto quer dizer? Quer dizer, entre outras coisas, que outros devem administrar o que pertence ao Senhor, e não você. Você não é chamado a administrar o dízimo, mas a devolvê-lo, integralmente, ao seu legítimo dono, como ele manda e onde ele manda. E se não o administrarem responsavelmente? Terão, certamente, que prestar contas ao Senhor do dízimo.

CONCLUSÃO

Entregue o dízimo! Mas não entregue o dízimo pensando no que vai receber. Entregue o dízimo porque você ama a Deus, porque você lhe obedece, porque você lhe é agradecido, porque você não quer ver a casa dele desamparada, porque você concorda que digno é o obreiro do seu salário (I Rm 5:8). Entregue o dízimo porque você não ama o dinheiro (I Tm 6:10), porque você sabe que mais bem-aventurado é entregar do que receber (At 20:35), porque você tem sido abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo (Ef 1:3b).

Fonte:
Departamento de Educação Cristã
Pb Paulo Cesar Amaral

6 comentários:

  1. As perguntas feitas no livro do profeta Malaquias são destinadas primeiramente aos sacerdotes, cf. 1:6-14 e todo o cap. 2. Deus repreende os sacerdotes pelo mau uso dos recursos a eles entregues pelo povo. A expressão “a vós, sacerdotes” repete-se por todo o livro. São os sacerdotes que estão roubando o dízimo, não o povo!
    Os sacerdotes recolhiam o dízimo e deviam repassar aos levitas, mas estavam fazendo isto, o que ocasionava o abandono do serviço por parte dos levitas, cf. Neemias 12:44, 47 e 13:10-13, e ainda II Crônicas 31, que mostra como era a distribuição dos dízimos, a qual deixara de funcionar no tempo de Malaquias por ganância dos sacerdotes. O profeta adverte a esses sacerdotes, que não distribuíam o dízimo para os levitas, mas ficavam com tudo! Eles retinham para si o melhor do rebanho. Isto é o que explica a pergunta irônica de Deus em 3:8, e não deve ser usado para pressionar o povo a ofertar.
    No dia em que os "sacerdotes evangélicos" fizerem uma "mea culpa" e assumirem seus erros, a Igreja experimentará uma grande bênção e uma grande libertação.

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  2. Belo post...todos os infieis no dizimo teriam que ler

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  3. Georges, obrigado pela participação e pela contrinbuição.

    Sim, os sacerdotes tem sua culpa neste processo.

    Hoje essa adventência se aplica a cada um de nós porque agora nós todos, crentes, por meio de Jesus Cristo, somos sacerdotes do Senhor.

    também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. 1 Pedro 2:5

    Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 1 Pedro 2:9

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  4. Prezado PC, Graça e Paz,

    O dízimo é uma ordenança da Lei, para que os Levitas, que não tinham parte na herança das 12 tribos, pudessem ter o seu sustento.

    Hoje vivemos na dispensação da Graça, tendo sido a parte cerimonial da Lei abolida na Cruz. Como o dízimo era uma das cerimônias instituídas pela Lei, a qual é parte do Antigo Testamento, foi abolido no Novo Testamento, o qual entra em vigor a partir da morte do Testador, o Senhor Jesus (Hb 9.16,17). Sendo assim, a nossa responsabilidade como Igreja dos gentios (a Lei foi direcionada aos judeus) vai muito além do cerimonial do dízimo, pois tudo que temos vem do Senhor.

    Portanto, devemos, como Igreja, lançar fora todo tipo de avareza e semearmos abundantemente na Obra do Senhor, para que todos os povos da Terra possam ser alcançados pelo Evangelho da Graça.

    Que o Senhor continue a abençoar o teu ministério, em Cristo Jesus!

    Graça e Paz,

    Marcelo de Andrade.

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  5. Olá a paz
    Boas Palavras do Georges é isso que o penso sobre o dizimo
    as pessoas hoje usar esse texto e aplicar para o povo, como tivesse roubado alguma coisa
    o povo nunca roubou os dizimo e oferta, mais, os que roubaram foram e é até hoje os sacerdotes

    só refletir:

    as oferta não é algo voluntárioas?
    como aquem poder roubar oferta?

    PC Amaral colocou que não devemos administrar o bens da casa do tesouro ( que não existe mais)como sarcetode Se somos todos sacertodes, como PC Amaral colocou, podemos administra os bens Sim
    Agora, como as pessoas dão tanta enfase sobre esse assunto, parece que rasgaram o restante da Biblia
    Não falam mais de salvação , santidade e outros tanto assunto que nos leva a aproximar de Deus
    Nos colocam na parede, nos julgam erroniamente chegando a ponto do abisurdo de nos chamar de LADRÃO E NOS AMALDIÇOANDO E NOS JOGANDO NO INFERNO POR CAUSA DISSO
    FICAM COM A PAZ DE CRISTO QUE EXCEDE TODO ENTENDIMENTO

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  6. Paz e graça sejam convosco!
    Peço que dê uma olhada no link http://pati-florzinha.blogspot.com.br/2011/10/analise-de-malaquias-3-10.html

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