Graça e sangue
Por Marlon Teixeira em Ultimato Jovem
A Bíblia, em seu final derradeiro de narração pós-[morte, ressurreição e ascensão] de Cristo, pretende nos conduzir a uma reflexão que, costumeiramente, passa por nós despercebida. A Carta aos Hebreus emite uma luz longínqua… sobre a nossa leitura cristã das Escrituras, especificamente a do Antigo Testamento. Seu escritor deseja revelar milênios de obscuridade judaica, listando os porquês de tantos ritos cerimoniais em Israel. O objetivo litúrgico e literário desta epístola, portanto, é mostrar-nos de forma categórica que sem o derramamento de sangue inocente, jamais haveria remissão de pecados.
Foi no próprio Éden que, por meio da incompreensão do protoevangelho de Gn 3.15, o processo de esperança messiânica se iniciou naturalmente. O primeiro suspeito de possuir tal essência redentora foi Abel, e vê-se a evidência disto nas palavras de Eva em Gn 4:1: “Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR.” Entretanto, esta certeza não sobreviveu por muito tempo. E após ser Abel assassinado por seu irmão, sua mãe não hesitou em nomear outro filho para o ofício e, referindo-se a Sete, declarou: “Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou.” (Gn 4.25). Não foi Abel e ainda não era Sete, mas a espera prosseguiu.
Até sobre Noé houve uma profetada do gênero (Gn 5.29), sendo esta a “última” afirmação de esperança a respeito do redentor no livro de Gênesis. Entrementes, o sinal de como seria tal redenção acontecera entre o primeiro casal, sem que o mesmo percebesse. Lembre-se que quando, por efeito do pecado, os olhos de Adão e Eva se “abriram”, eles apanharam folhas de figueira e fizeram cintas para si mesmos. Seguindo o texto, logo depois se lê que Deus decidiu providenciar roupas de peles para os dois. Peles de quê? De animais, ora! O SENHOR estava lecionando ali, por alegoria prática, que não se anula, se esconde ou se esquece do pecado, senão através da efusão de sangue imaculado (Gn 3.7, 21).
Por conseguinte, depois desta primeira sombra do Calvário, em Isaque tem-se a segunda maquete mais propriamente encenada do holocausto messiânico, não no sentido de que ele, o filho de Abraão, foi o objeto do sacrifício narrado, tornando-se assim um tipo de Cristo, mas mediante a elucidação de que ali o mesmo representava o povo de Deus, em estado de merecedor da morte por designação paterna. Mas ao contrário do óbvio, não muito distante do momento em que a adaga de Abraão atravessaria a garganta de seu filho, Deus interrompeu o processo, providenciando um animal inocente para invalidar e inutilizar aquele iminente martírio, fazendo o carneiro maldito e digno de morte em lugar de Isaque. Este cordeiro tipificava o cordeiro da Cruz.
E depois de tais estereótipos, Deus resolveu nos apresentar sua lei, a legislação mosaica dividida em 613 artigos. Deus decidiu através da mesma, requerer sacrifício de bodes para redimir os pecados do povo. Esta oferta tornou-se, por isto, parte da lei cerimonial de Israel (Lv 16.15-28; Hb 5.1-4). Neste momento, oficialmente, Deus estabelecera o derramamento de sangue inocente (o dos animais), para esquecer-se de pecados insolentes (os dos homens). Entretanto, o poeta neotestamentário nos adverte com um “stop” reflexivo: “porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.” (Hb 10.4). Mas por qual motivo o sangue deles não poderia remover pecados, posto que fôra o próprio Deus que estabelecera este princípio? O mesmo escritor prossegue respondendo: porque a aliança da lei, no Antigo Testamento (Hb 7.28), havia sido estabelecida com defeito (Hb 8.7), e, portanto, não era perfeita.
Os sacerdotes ofereciam sacrifícios de forma contínua e periódica, porém, não como imagem real das coisas, mas sim como figura do verdadeiro. A carne de animais não pode remover pecados, visto que aquela também está inteiramente contaminada por este (Rm 8.20-22). Os sacerdotes, da mesma forma, não podem permanecer como ofertantes eternamente, pois dedicam suas carreiras a ministrar a expiação de pecados, sendo eles mesmos pecadores, precisando de expiar suas próprias mazelas, e fazendo isto sem dar fim a este processo, o pecado torna-se proeminente, reexistindo em qualquer oportunidade plausível a sua consumação. Do contrário, ou seja, se este ato sacerdotal aniquilasse pecados, os sacrifícios não teriam cessado de ser oferecidos? (Hb 10.2).
E então Jesus entrou na história da redenção. Como seu diretor e protagonista, sua função era trazer um “the end” satisfatório a Deus no que tange ao pecado dos homens. Ele veio e permaneceu sem transgressões para ser entregue uma única e definitiva vez como oferta em lugar daqueles a quem o Pai lhe dera. Ele, o ofertante perfeito, oferecendo a si mesmo, como carne e sangue incontaminados, serviu para o padrão de Deus. Ou era o Filho, gerado em entranhas divinas na eternidade ou seríamos nós, criados como gado para o abate. Felizmente, a primeira opção foi a adotada. Jesus nos religou ao Pai. E a graça agora faz sentido aos nossos ouvidos. E, mais ainda, porque antes da cruz, uma última sombra explicativa foi posta para o mundo: a troca de Jesus por Barrabás foi o desenho final que expunha a salvação por meio do sangue, quando Barrabás obteve seu direito de liberdade através da condenação do Cristo por aqueles que vociferavam: “Crucifica-o! Crucifica-o!” E assim foi. Pelas suas pisaduras fomos sarados.
E assim é. Desde sempre, Graça e Sangue andam juntinhos e de mãos dadas.
Foi no próprio Éden que, por meio da incompreensão do protoevangelho de Gn 3.15, o processo de esperança messiânica se iniciou naturalmente. O primeiro suspeito de possuir tal essência redentora foi Abel, e vê-se a evidência disto nas palavras de Eva em Gn 4:1: “Adquiri um varão com o auxílio do SENHOR.” Entretanto, esta certeza não sobreviveu por muito tempo. E após ser Abel assassinado por seu irmão, sua mãe não hesitou em nomear outro filho para o ofício e, referindo-se a Sete, declarou: “Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou.” (Gn 4.25). Não foi Abel e ainda não era Sete, mas a espera prosseguiu.
Até sobre Noé houve uma profetada do gênero (Gn 5.29), sendo esta a “última” afirmação de esperança a respeito do redentor no livro de Gênesis. Entrementes, o sinal de como seria tal redenção acontecera entre o primeiro casal, sem que o mesmo percebesse. Lembre-se que quando, por efeito do pecado, os olhos de Adão e Eva se “abriram”, eles apanharam folhas de figueira e fizeram cintas para si mesmos. Seguindo o texto, logo depois se lê que Deus decidiu providenciar roupas de peles para os dois. Peles de quê? De animais, ora! O SENHOR estava lecionando ali, por alegoria prática, que não se anula, se esconde ou se esquece do pecado, senão através da efusão de sangue imaculado (Gn 3.7, 21).
Por conseguinte, depois desta primeira sombra do Calvário, em Isaque tem-se a segunda maquete mais propriamente encenada do holocausto messiânico, não no sentido de que ele, o filho de Abraão, foi o objeto do sacrifício narrado, tornando-se assim um tipo de Cristo, mas mediante a elucidação de que ali o mesmo representava o povo de Deus, em estado de merecedor da morte por designação paterna. Mas ao contrário do óbvio, não muito distante do momento em que a adaga de Abraão atravessaria a garganta de seu filho, Deus interrompeu o processo, providenciando um animal inocente para invalidar e inutilizar aquele iminente martírio, fazendo o carneiro maldito e digno de morte em lugar de Isaque. Este cordeiro tipificava o cordeiro da Cruz.
E depois de tais estereótipos, Deus resolveu nos apresentar sua lei, a legislação mosaica dividida em 613 artigos. Deus decidiu através da mesma, requerer sacrifício de bodes para redimir os pecados do povo. Esta oferta tornou-se, por isto, parte da lei cerimonial de Israel (Lv 16.15-28; Hb 5.1-4). Neste momento, oficialmente, Deus estabelecera o derramamento de sangue inocente (o dos animais), para esquecer-se de pecados insolentes (os dos homens). Entretanto, o poeta neotestamentário nos adverte com um “stop” reflexivo: “porque é impossível que o sangue de touros e de bodes remova pecados.” (Hb 10.4). Mas por qual motivo o sangue deles não poderia remover pecados, posto que fôra o próprio Deus que estabelecera este princípio? O mesmo escritor prossegue respondendo: porque a aliança da lei, no Antigo Testamento (Hb 7.28), havia sido estabelecida com defeito (Hb 8.7), e, portanto, não era perfeita.
Os sacerdotes ofereciam sacrifícios de forma contínua e periódica, porém, não como imagem real das coisas, mas sim como figura do verdadeiro. A carne de animais não pode remover pecados, visto que aquela também está inteiramente contaminada por este (Rm 8.20-22). Os sacerdotes, da mesma forma, não podem permanecer como ofertantes eternamente, pois dedicam suas carreiras a ministrar a expiação de pecados, sendo eles mesmos pecadores, precisando de expiar suas próprias mazelas, e fazendo isto sem dar fim a este processo, o pecado torna-se proeminente, reexistindo em qualquer oportunidade plausível a sua consumação. Do contrário, ou seja, se este ato sacerdotal aniquilasse pecados, os sacrifícios não teriam cessado de ser oferecidos? (Hb 10.2).
E então Jesus entrou na história da redenção. Como seu diretor e protagonista, sua função era trazer um “the end” satisfatório a Deus no que tange ao pecado dos homens. Ele veio e permaneceu sem transgressões para ser entregue uma única e definitiva vez como oferta em lugar daqueles a quem o Pai lhe dera. Ele, o ofertante perfeito, oferecendo a si mesmo, como carne e sangue incontaminados, serviu para o padrão de Deus. Ou era o Filho, gerado em entranhas divinas na eternidade ou seríamos nós, criados como gado para o abate. Felizmente, a primeira opção foi a adotada. Jesus nos religou ao Pai. E a graça agora faz sentido aos nossos ouvidos. E, mais ainda, porque antes da cruz, uma última sombra explicativa foi posta para o mundo: a troca de Jesus por Barrabás foi o desenho final que expunha a salvação por meio do sangue, quando Barrabás obteve seu direito de liberdade através da condenação do Cristo por aqueles que vociferavam: “Crucifica-o! Crucifica-o!” E assim foi. Pelas suas pisaduras fomos sarados.
E assim é. Desde sempre, Graça e Sangue andam juntinhos e de mãos dadas.
Marlon Teixeira, 20 anos, é de Ipatinga, MG.
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