Entendendo o fruto do espírito
Apesar de não ser amplamente debatida, esta é uma discussão muito interessante. Apenas conversando com algumas pessoas, percebemos o quanto é divergente o entendimento dos cristãos com respeito a Gálatas 5.22-23.
Em primeiro lugar, assim como discutido no artigo sobre Paulo e o terceiro céu, temos de entender que Paulo era um homem perfeitamente instruído na Palavra de Deus, e que, analisando todas as suas cartas, podemos dizer, com certeza, que Paulo sempre dizia exatamente o que ele queria dizer - sem mais, nem menos. Na verdade, muitas normas exegéticas e hermenêuticas são pura invenção humana para poderem deturpar a mensagem pura da Palavra. A principal norma que devemos entender e aceitar é: a Palavra diz exatamente o que ela quer dizer.
Paulo, ao escrever a sua carta aos gálatas, cita as obras (plural) da carne e o fruto (singular) do "Espírito". Parece ser um contraste muito grande quando observamos que as obras da carne são uma pluralidade de obras, enquanto que o fruto do "Espírito" também é uma pluralidade de coisas. Alguns concluem, por isso, que seria inconsistente crermos que o fruto do "Espírito" seria uma pluralidade de coisas - sendo que "fruto" está no singular; seria mais sensato pensar que seja uma única característica (o Amor), e que as demais sejam ferramentas desta característica. Contudo, o pensamento de que o fruto seja apenas um e que possui uma pluralidade de características, não é nem um pouco inconsistente comparando a outros textos da Bíblia sagrada. Lembre-se que cremos em apenas um Deus, mas que este único Deus é eternamente existente em três pessoas distintas, mas iguais em essência. Lembre-se também do demônio chamado Legião [Mc 5.9]. Ele disse: "... Legião é o meu nome [singular], porque somos muitos [plural]." É perfeitamente plausível que o fruto do "Espírito" sejam 9 em 1; cada característica agindo no momento devido e oportuno.
Não me parece justo forçar um texto bíblico a dizer aquilo que ele não diz com exatidão. Acredito que ao invés de nos preocuparmos em querer entender aquilo que a Bíblia não diz, deveríamos investir o nosso tempo em aceitá-la.
Veja bem, é perceptível que estas características do fruto do "Espírito" são semelhantes às características - ou ferramentas - do amor, descritas em I Co 13.1-8. Porém, perceba que no versículo 13 de I Co 13 Paulo escreveu: "Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor..." Ele fez uma clara diferença entre "Fé" (pistis) e "Amor" (agape), mesmo que no versículo 7 ele diga que o "Amor" (agape) "tudo crê"; e este "Crê" é pistis. E "Fé" (pistis) é uma das características do fruto do "Espírito". Então, embora a Fé faça parte das ferramentas do Amor, pistis e agape são palavras distintas e possuem significados particulares. Se Paulo quisesse dizer que o fruto do "Espírito" é o Amor, e que as demais características são meras ferramentas deste Amor, ele teria dito isso claramente, ao invés de listá-las uma atrás da outra, de forma ordenada.
Outro ponto a ser analisado nesta questão é se este "Espírito" é realmente o Espírito Santo ou o espírito humano.
Fonte:
Biblia em Reflexão - Gabriell Stevenson
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